18 de janeiro de 2011

Um novo recomeço...

Saúdo com muito afeto Dom Plínio José, Bispo de Picos, Frei Moacir Casagrande, Assessor do XVII Capítulo Geral, juntamente com os Padres – Amigos que concelebraram esta liturgia de Ação de Graças; Igualmente saúdo o Prof. Antonio Chaves de Santana, que ao nosso lado exerce o seu sacerdócio com amor e muita unção e que esteve tão mais próximo durante esse ano capitular;

Os amigos e amigas, os de longe, os de perto... os membros do Grupo de Leigos e Leigas do Carisma Cordimariano, o Grupo Pró-Vida, as Educadoras e Educadores das Escolas Cordimarianas, nossas Vocacionadas e Formandas, os Funcionários e Funcionárias que dividem conosco o labor de cada dia, nossos queridos familiares... a todos e todas saúdo com ternura e amorosidade;

Com reverência e grande afeição saúdo as Cordimarianas, Irmãs com as quais dividimos os sonhos, a mística, a cumplicidade de um Carisma: Ser Coração de Maria na Compaixão-Misericórdia...

Gratidão! Gratidão! Gratidão! Gratidão a Deus, por todas as maravilhas que Ele realizou em nossas vidas nesse Ano Capitular! Percorremos um itinerário onde fomos provocadas a nos perceber como discípulas missionárias que espreitam o passado ousado e anseiam por abraçar o novo tempo que já chegou. Gratidão a todos e todas que foram mediação de Deus nesse caminho, especialmente a Frei Moacir Casagrande, nosso querido assessor e ao Prof. Antonio Chaves que nos fez ver no início desse caminhar, a grandeza de nossa história; a cada Cordimariana que corresponsavelmente assumiu esse processo como uma grande oportunidade, como espaço de crescimento e conversão. Gratidão a Dom Plínio que veio de Picos para estar com uma porção do seu rebanho, que com sua presença amiga nos faz sentir mais Igreja, recordando-nos a comunhão pastoral com nossos pastores e toda a Igreja; essa Igreja da qual todos, todas nós somos membros. A cada um, cada uma que veio celebrar conosco esta Ação de Graças e compromisso, a nossa palavra de gratidão! A presença de todos significa muito... “Um carisma não é dado, é confiado. Não pertence à pessoa ou ao grupo que o recebe, mas à Igreja. (...) Estes últimos são seus guardiães, mas não seus proprietários. O povo todo de Deus tem, portanto, um direito e um dever de vigiar esta parte de seu patrimônio, um direito e um dever exercido pela hierarquia da Igreja em nome do povo de Deus, especialmente através da aprovação das Constituições de cada instituto. O capítulo de um instituto, portanto, não é um assunto privado que diz respeito somente aos membros deste instituto. Trata-se de um acontecimento eclesial que é de interesse para toda a comunidade cristã. É normal que esta estivesse interessada nele e preocupada com suas orientações. Para um instituto, é a ocasião por excelência de se tornar de novo consciente de suas ligações com a Igreja em cuja missão desempenha uma parte, e com o mundo ao qual foi enviado por Cristo.” (Armand Veilleux, OCSO)

Silêncio...

Queridas Irmãs, queridos Irmãos,
É preciso muita coragem para acolher o legado que hoje a Congregação coloca não só em nossas mãos, mas em nossos corações. A coragem de, num mundo cada vez mais fragilizado, de relações líquidas que se desfazem com a maior facilidade (cf. Bauman), de tempos de crise de valores, imprimir em nossos corações a paixão por Cristo, a paixão pela humanidade...
É este o momento, o tempo que temos! O tempo é uma riqueza, um capital precioso! Na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para armar sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14). O tempo kronos – cronológico, de todo um Ano Capitular chegou ao fim, o tempo kairós não pode ficar em nós apenas como uma boa lembrança. São Paulo nos adverte: “Não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: No tempo favorável, eu te ouvi. E no dia da salvação vim em teu auxílio. Eis agora o tempo favorável por excelência. Eis agora o dia da salvação!” (2Cor 6,1-2). É importante saber ler todos os momentos. Fazer a leitura teológica da vivência cotidiana, como Maria, que sabia meditar todos os acontecimentos em seu coração (cf. Lc 2,19.51). Neste tempo que nos é dado viver, podemos nos alegrar, porque é Deus mesmo quem nos visita. A Encarnação é a maior manifestação de Deus. A história é o lugar da intervenção de Deus. É Ele que a conduz, que a guia! Deus tem nas suas mãos o destino da história, da nossa história e nós participamos dela. Nesta ótica não existe tempo profano, tempo vazio, e sim tempo sagrado, tempo precioso pra viver. Ele é único! Se o deixamos passar, não retornará mais. A visita que o Senhor faz é irrepetível. Cada hora é única! Este momento é único para todos, todas nós.

Hoje, como o velho Abraão, somos chamadas a contemplar as estrelas do céu – assim será nossa posteridade – fecunda, prenhe de possibilidades... A fecundidade tem a ver com quantidade, mas a transcende. É essa a nossa esperança porque confiamos acima de tudo n´Aquele que nos chamou a viver este misterioso desígnio: Ser coração de Maria na Compaixão e Misericórdia. O nosso coração alimenta esta certeza. Pode ser que não cheguemos lá..., com certeza a maioria de nós não experienciará esta realidade, mas, como Moisés, vislumbraremos de longe, até onde nossos olhos possam alcançar, lá onde poderemos chegar. E, com certeza, as novas gerações de Cordimarianas trilharão este caminho, pisarão este sagrado chão, colherão os frutos maduros de uma vida de entrega e doação.

Ontem vivenciamos um acontecimento que marca a nossa vida. Não só tivemos a alegria de enviar Irmãs individualmente para novos campos de missão, mas de enviar Comunidades capazes de abrir atalhos e caminhos de possibilidades na Amazônia. Com isto, ratificamos a crença na profecia inquietante de Júlio Maria: “Eu, eu quero a Amazônia.” Abraçar o desconhecido, andar por caminhos nunca andados, romper as fronteiras do já conhecido, é dizer de que tamanho somos nós. Sim, porque “somos do tamanho dos nossos sonhos” (Fernando Pessoa), já dizia o poeta. E, mais do que isto! É redesenhar um itinerário cordimariano na mística do Amor-Sacrifício, com a esperança e a alegria de quem sabe o que significa se doar pelos últimos. É sair do conforto das nossas seguranças, sejam elas afetivas ou materiais e reinventar um jeito novo de viver o Carisma Cordimariano.

Com nossa vida e missão, atualizemos a profecia de Isaías: “Dilata o espaço da tenda, as lonas das tuas moradas sejam esticadas! Não economizes nada! Alonga as tuas cordas, as tuas estacas, faze-as firmar, pois à direita e à esquerda vais transbordar: tua descendência herdará nações que povoarão as cidades desoladas” (Is 54,2-3). É este o nosso destino, pois somos filhas de um grande missionário. Nossa querida Madre Maria de Jesus, guardiã do nosso Carisma, da nossa Espiritualidade e do nosso Lema Amor-Sacrifício, como nos recordou Frei Macapuna em 2008, “qual vaso de argila resistente, guardou até se quebrar, o perfume de Cristo, transmitindo-o com fidelidade a gerações de Cordimarianas. A vocação do vaso não reside na sua beleza, mas na sua capacidade de ser lugar onde se deposita o belo, o precioso e o sagrado.”

As três carnaúbas que foram replantadas na frente da nossa casa é um marco da celebração desse Capítulo. Elas estão aí para nos lembrar, como nos ensina Pe. José Luís, CShalom, que “o carnaubal é o reino das pessoas que doam a vida. Na Eucaristia celebramos a nobreza do amor-serviço. O amor gera, cuida e sustenta a vida plena. O reino da carnaúba estende-se na simplicidade, nos terrenos alagados e na terra seca. É um reino abundante, denso e extenso. É sóbrio. É um reino sereno e de paz. O carnaubal não se esconde, mas também não se exibe. Permanece. O reino da carnaúba é oferta do nosso chão, onde a vida corre escondida. É o reino do serviço e da partilha.”

Queridas Irmãs que hoje assumem comigo este desafiante, ao mesmo tempo fascinante ministério do poder-serviço: Socorro Silva, Lucila Porto, Ana Tereza Bezerra e Bernadete Neves: Alegro-me por tê-las por mais perto nos próximos quatro anos. Juntas, enfrentaremos os vendavais e as turbulências deste novo tempo que nos é dado experimentar. Mas não estamos sozinhas! Junto a cada Irmã e todo o corpo congregacional, cuidaremos do precioso dom que hoje recebemos. A maior força de uma equipe consiste na capacidade que ela tem de criar comunhão, de imolar-se em favor das pessoas que Deus coloca em seu caminho, em oferecer não um pouco de si, mas tudo de si, isto é, o que temos de melhor. Mais do que apontar erros, é ajudar a redescobrir o que significa amar na gratuidade; o que significa viver sob a consigna do amor-sacrifício; o que significa construir relações de justiça, fraternidade, generosidade, amorosidade... É isto que o Evangelho chama de Reino de Deus.

Hoje, mais que há quatro anos atrás, estou convicta do que é viver o Mistério Pascal. É isto! Viver o Mistério Pascal! É solidão! É morte! É carregar a cruz! É por vezes sentir-se, experimentar-se abandonada! É despojar-se da tirania da prepotência, da autossuficiência, do julgamento precipitado... É colocar-se de joelho diante do Mistério! É inclinar-se diante do mistério de tantas vidas que o Senhor coloca à nossa frente. É ousar ir mais longe, é vibrar com todos os sinais de vida que podemos construir. É viver a alegria da comunhão universal. Tudo isto é Mistério Pascal! É ter a capacidade de esperar pacientemente a semente brotar... É Ressurreição! É viver o tempo kairológico – graça que invade nosso ser, que nos faz ser mulheres transfiguradas, felizes, comprometidas com a causa da vida (cf. Jo 10,10).

Nós hoje assumimos uma grande missão! A missão de projetar a Congregação para o futuro, em tempos de crise, sabendo e acreditando n´Aquele que nos consagrou para testemunhar a esperança e a alegria de servir às gerações de Cordimarianas. E como nos recordava o Professor Antonio Chaves, “os nossos fundadores foram abraâmicos porque acreditaram, com toda esperança, num sonho possível, ao vislumbrá-la no horizonte como possibilidade, como inédito viável.” O tempo da graça é agora! Somente seremos partícipes e protagonistas de um novo tempo, na confiança n´Aquele que pode “fazer novas todas as coisas” (Ap 21,5). Só assim poderemos ensaiar uma nova convivência entre nós, rompendo com tudo aquilo que paralisa nosso anseio de aquecer nosso discipulado missionário. Para tanto, precisamos contemplar Maria, na sua atitude humanizadora de gerar Cristo para o mundo. Também nós Cordimarianas somos convocadas, na idade e nas condições que nos encontramos hoje, a oferecer o nosso ventre para que seja grávido do amor a ser derramado entre nós e sobre as pessoas com as quais somos chamadas a amar incondicionalmente, sobretudo as mais necessitadas de pão e ternura. Que assim seja!

Irmã Maria do Disterro Rocha,FCIM Caucaia, 17 de dezembro de 2010

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