Caríssimo Frei Moacir Casagrande, Queridas Irmãs do Conselho Geral em exercício, Queridas Irmãs eleitas para animar a Vida Consagrada Cordimariana,
Prezadas Irmãs Capitulares e demais Irmãs Cordimarianas, Queridas Formandas, Estimado Prof. Antônio Chaves,
As portas da nossa casa se abriram para acolher todos e todas. Ansiosamente esperávamos por este momento. E ele chegou! Chega a nós como um dom! Um precioso presente! Chega a nós como acolhida amorosa, como oferta de si. Sintamo-nos pois acolhidos e acolhidas, sentindo o bom odor, o perfume de Cristo que neste dias se derramará sobre todas/os nós, e através de nós sobre toda a Igreja, sobre todo o povo.
Finalmente podemos dizer: “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 118/117) Este é o dia em que fazemos a abertura do nosso XVII Capítulo Geral Ordinário. Pablo Neruda afirma que, “tudo é altar”. No cotidiano celebramos a liturgia do coração, daquilo que permeia nossa vida, daquilo que está impregnado o nosso ser. A celebração desse Capítulo não é um fim em si mesmo, pois não se acaba o tempo longo de preparação. Ele é continuação de um novo recomeço que queremos assumir; ele é promessa, é compromisso assumido, da memória resgatada, viva e sempre atual do nosso Carisma.
Como os Capítulos anteriores, este XVII Capítulo Geral é um tempo extraordinário de graça para a nossa Congregação e para todos os que participam de sua vida e missão. “O Capítulo faz parte da unidade, aponta para os próximos passos.” (Antonio Chaves) É uma grande graça e por isso não podemos desperdiçar este momento de tomar decisões audaciosas, corajosas e mesmo inesperadas. Faltam seis anos para o centenário da Congregação. Construir o futuro da vida e da Missão Cordimariana exigirá que tomemos decisões que nos permitam ser o que somos chamadas a ser: mulheres apaixonadas por Deus, irmãs que evangelizam pela marca da compaixão-misericórdia, religiosas que edificam comunidades marcadas por relações humanizadas; e como nosso Fundador, discípulas do Senhor, entranhadas de um coração missionário; um coração inquieto, sobretudo pela capacidade de olhar longe – ver a amplidão dos apelos da humanidade enfraquecida; de “olhos fixos em Jesus” fazer a experiência de deixar-se penetrar pelo dinamismo da Palavra, a exemplo da Mestra do discipulado missionário: “E Maria conservava todos os acontecimentos, meditando-os em seu coração” (cf. Lc 2,19.51).
Assim escutamos do Prof. Antonio Chaves de Santana, no dia 14 de novembro de 2009: “O Capítulo é tempo propício de renovar a nossa consagração ao Senhor, de pastorear o nosso carisma e encarnar a nossa espiritualidade em tempos de fortes mudanças. É um tempo salutar de elevar nosso olhar para o alto, porque é do Senhor que desce a luz divina, a fim de discernirmos os sinais dos tempos. É tempo de releitura da nossa vida cordimariana, de descobrir seu significado pascal e testemunhar o nosso carisma: Ser Coração de Maria, na Compaixão-Misericórdia.” E mais: “Celebrar um Capítulo é voltar às nossas raízes, é nos refontizar, ir ao poço da nossa história para beber a água viva e mergulhar na mais original inspiração profética de Padre Júlio Maria e Madre Maria de Jesus. É resgatar um tempo de felicidade e de intensa paixão pelo Evangelho. É projetar para frente com renovado ardor missinário.” Hoje é o dia que o Senhor fez para nós! É o momento da decisão! Não podemos nos conformar em assumir uma atitude apática, de nos colocar fora do processo de conversão pessoal, comunitária, congregacional. A responsabilidade é de todas nós!
Durante o último ano nos debruçamos sobre o tema que norteou toda uma busca conjunta: Discípulas Missionárias Cordimarianas: passado ousado, impulso profético para um novo tempo. Vasculhamos nosso passado e reconhecemos que ele foi de fato ousado. Nossa inesquecível Madre Maria de Jesus e as Irmãs da 1ª hora, comeram do pão da providência, passaram penúrias, atravessaram obstáculos, firmaram-se na mística do Amor-Sacrifício. Em todas as horas podemos sentir a força do testemunho de muitas Irmãs que se deixaram fascinar pelo convite do Mestre, num discipulado missionário de imolação, de vida doada e derramada, de pão que se parte e se reparte para que outras pessoas possam sentir a felicidade de saberem-se bem amadas. Algumas dessas nossas Irmãs carregam no seu corpo as marcas do sofrimento, do desconforto, mas aprenderam ao longo dos anos o que significa o amor sacrifical e o sacrifício amoroso. Esse testemunho vivencial não é divulgado na mídia, mas aí reside a mística que sustenta o tecido cordimariano. Particularmente alimento por essas Irmãs um amor referente cheio de unção, porque são elas que tantas vezes nos aquecem, quando somos tentadas a viver uma Vida Consagrada Cordimariana acanhada, que fala pouco para o povo, sobretudo para a juventude.
Esse passado não nos paralisa. Ele nos provoca a olhar para frente, para todos os lados. Ele nos inquieta, nos coloca em crise... A Vida Religiosa Consagrada é profética por vocação! Rezamos para termos a coragem de assumir esse impulso profético para um novo tempo que queremos construir. O novo tempo chegou! Não pode ser postergado! A urgência do novo tempo que nos é dado viver nas próximas horas, nos próximos dias, nos próximos anos deve nos fazer abertas para acolher a novidade do Espírito Santo. É preciso ouvidos atentos para escutar a Palavra como o profeta: “Toda manhã o Senhor desperta meus ouvidos, para que escute como discípula” (cf. Is 50,4). Ele ainda nos ensina: “Não fiquem lembrando o passado, não pensem nas coisas antigas; vejam que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando agora, e vocês não percebem? Abrirei um caminho no deserto, rios em lugar seco” (Is 43,18-19).
Posto isto, gostaria de ratificar o que tão claramente foi sentido e experienciado nos últimos quatro anos. Gratidão foi o mantra que naturalmente foi brotando de nossas entranhas a partir de uma experiência de fé. Hoje queremos elevar nossa palavra de gratidão a Deus por sua providente e benevolente presença em nossa vida. Gratidão às Irmãs que nos ajudaram, que somaram conosco, que ofereceram um pouco de si. Para nós o pouco foi muito! Em algumas Comunidades vimos e sentimos essa experiência ser derramada abundantemente! Como Maria, elevamos a Deus o nosso canto de louvor pelas maravilhas que Ele, generosamente, realizou em nós e através de nós.
Na primeira sessão do último Capítulo Geral, quando o meu nome foi confirmado como Superiora Geral, citei o Apóstolo Paulo quando esse, reconhecendo-se fraco experimenta a força de Deus. Naquela ocasião pedi a todas vocês: Me ajudem! Lembram? Gostaria de dizer que sou muito grata por vocês terem levado a sério esse meu pedido, pois verdadeiramente me senti ajudada, amparada, consolada. Talvez eu não tenha cumprido toda a minha missão em relação a vocês, mas vocês sim. Por isto sou eternamente grata por tudo quanto recebi de forma tão gratuita!
Foi gratificante sentir a corresponsabilidade das Equipes de Assessorias que animaram a missão nos vários espaços de presença cordimariana. É certo que umas deram passos mais largos, todavia, cada uma procurou oferecer o melhor de si. E o fez com amor e dedicação. Por isto nossa palavra de gratidão as Assessorias de: Educação, Saúde, Inserção, Espiritualidade, Leigos/as do Carisma Cordimariano, Animação Vocacional, Pastoral de Juventude, Formação, Obra Social.
Nossa gratidão às Superioras Regionais e suas Equipes que animaram a vida cordimariana com dinamismo e muito amor. Cada Região pôde revelar uma faceta do nosso rosto, numa demonstração singela de alegria, convivência, formação, compromisso e partilha. Igualmente agradecemos às Superioras Locais pelo empenho e desvelo, pelo sentido de pertença à nossa Família Cordimariana. Com vocês, ao lado de vocês, no dinamismo Regional e Local, sentimos que o serviço de animação da nossa vida religiosa se torna mais leve.
Agradecemos de coração a Equipe de Formação, na pessoa da Irmã Maria de Jesus pela presteza e amor com que assumiu essa missão, ajudando a refletir, encaminhando proposta, facilitando o processo formativo. Um agradecimento especial às nossas Formadoras pela coragem em assumir tão desafiante missão. Não é fácil! Mas vocês aceitaram a missão! Podemos dizer que a formação é um longo aprendizado, às vezes mesclado por incompreensões e poucas consolações. É quando decidimos acolher a humanidade em processo de crescimento e nunca acabada, que começamos a nos compreender a caminho. “Caminheira, você sabe, não existe caminho... passo a passo, pouco a pouco e o caminho se faz.” O caminho não está feito e não estará enquanto existir uma pessoa na face da terra. O caminho se faz, caminhando...
Foi gratificante também perceber o Centro de Vida Irmã Maria Consolata como espaço acolhedor dos nossos destinatários e contemplar a corresponsabilidade das Irmãs e pessoas leigas que ali procuram servir, na tentativa de resgatar-lhe a autoestima e trabalhando na construção de uma consciência cidadã. Pouco a pouco, vamos acertando o passo! Por tudo que recebemos como oferta e dom materiais e humanos a nossa gratidão a Deus. Igualmente agradecemos o crescimento significativo do Grupo do Carisma Cordimariano – a parceria com os/as Missionários/as Leigos/as – essa intuição que está na raiz da nossa história, de vidas que se doam a partir do Carisma da Compaixão-Misericórdia. Ao lado de vocês recolhemos os sinais visíveis da partilha e compromisso, que nos faz perceber a dimensão da nossa missão.
Vivemos um ano intenso! Os encontros multiplicados foram mais uma oportunidade da nossa busca conjunta. O mais bonito é que o vivenciamos nos sentindo mais família! Foi gratificante poder contar com a Equipe de Apoio desse Capítulo sabendo que mesmo diante de tantas ocupações vocês se colocaram disponíveis para servir mais uma vez a Congregação. Foi gratificante escutar o sim generoso e livre de todas as Irmãs que se colocaram disponíveis diante da indicação de todo o corpo congregacional, para o serviço de animação nos próximos anos. Nós todas tivemos a alegria de cantar o nosso canto de gratidão a Deus, pela eleição das nossas Conselheiras Gerais: Irmã Socorro Silva, Irmã Lucila Porto, Irmã Ana Teresa Bezerra e Irmã Bernadete Neves. Nós todas acolhemos vocês, queridas Irmãs, como enviadas por Deus para nos ajudar no próximo quatriênio. Abraçando cada uma de vocês, repetimos a palavra do Frei Moacir Casagrande, que muito nos consolou durante o nosso retiro: “A força que precisamos vem d´Ele, para assumirmos os desafios da missão.”
Pelo que pudemos realizar, enquanto Governo, devo atribuir o mérito à nossa capacidade de diálogo, sintonia, amorosidade, corresponsabilidade, leveza... nos deixando guiar pelas intuições que nos impactaram, que nos desafiaram a “acreditar no impossível de Deus em nossas vidas” (cf. Lc 1,37). Foi muito gratificante trabalhar com cada uma de vocês: Irmã Socorro Laurentino, Irmã Letícia Dias, Irmã Silvanete Pontes, Irmã Elizabete Barboza. Nossos encontros a cada mês foram revestidos de grande empenho, ao mesmo tempo de alegria e prazer.
Você, Irmã Socorro, foi aquele ouvido atento. Agradeço muito a Deus a graça que tive de contar com você na nossa Equipe. O seu amor e zelo pela Congregação, o seu coração generoso capaz de oferecer o melhor tempo para nossa Família, a sua capacidade e paciência em animar o trabalho vocacional nos fazem cantar Ação de Graças. Você sempre colocou os interesses da Congregação e da Pastoral Vocacional à frente dos seus interesses e mesmo necessidades pessoais. Isto nos faz pensar numa vida derramada, onde podemos perceber os sinais visíveis de uma Vida Consagrada Cordimariana íntegra e fiel. Com você me senti apoiada e tantas vezes consolada!
Você, Irmã Letícia, é expressão de atenção, de cuidado, de desvelo, sobretudo por aquela porção da Congregação muito preciosa para nós: nossas Irmãs mais fragilizadas. O seu testemunho de ternura já é uma marca antiga, pois sempre a vimos percorrendo a enfermaria visitando uma, acolhendo outra, animando quem encontra no caminho. Na nossa Equipe você foi aquele sinal visível de alegria e nos ensinou muito como assumir grandes responsabilidades revestidas de simplicidade e leveza. Ao mesmo tempo você é aquela que ensina às novas gerações o amor e o respeito por quem é mais adiantada na idade, sabendo tão bem, conjugar respeito e atenção para quem serve e anima. Sua presença me animou e me deu muita alegria.
Você, Irmã Silvanete, foi exemplo de solicitude, disponibilidade, ternura e amizade. Sua presença nos ajudou a tornar o fardo mais leve, talvez não tanto pelo acúmulo de serviços que tivemos que assumir, mas pela sua capacidade de comunhão, ajudando-nos a refletir e encaminhar soluções. Sua presença na nossa Equipe a tornou mais leve! A sua palavra amiga, o seu jeito de ser nos marcaram e aliviaram tensões e dificuldades. Você foi aquele coração sempre atento e disponível. Sou grata a Deus e a você pelo serviço que amorosamente prestou, como sinal de pertença à nossa Congregação.
E você Irmã Elizabete, o que dizer de você? Não existem palavras! O que fazemos é apenas uma pequena tentativa de chegarmos um pouco perto, de nos aproximarmos mesmo que vagamente do que sua presença e contribuição significou para toda a Congregação. Não teria a coragem de dizer nada sem antes fazer uma confissão pessoal e pública. Tive a graça de conviver a segunda vez com você. Foram oito anos de convivência, mas gostaria de destacar os últimos quatro anos. Pelas vezes que não fui aquele coração compassivo e misericordioso; pelas vezes que a feri com minhas intransigências, com minha impaciência, com minha incapacidade de a compreender quando você mais precisou, imploro de você o seu perdão e através de você, peço perdão a cada Irmã que magoei, a cada uma que não soube compreender, a todas que feri, que não escutei... E gostaria de ratificar: nem você e nenhuma das Irmãs não me devem nada. Nós sim devemos muito a você! Particularmente lhe devo muito. Durante esses quatro anos você foi muitas vezes os meus pés, as minhas mãos, a minha cabeça e até meu coração! Nós não estaríamos aqui hoje com tudo preparado, não fosse a sua eficiente e amorosa capacidade de encaminhar todas as coisas. Eu a vi muitas vezes presa à frente do computador altas horas da noite e já a encontrava desperta em frente do mesmo computador desde as primeiras horas do dia. Foi um trabalho duro, inclemente, mas rico e fecundo pelo amor que você generosamente derramou. Os bens materiais são necessários, todavia os simbólicos e afetivos são os que marcam a vida das pessoas e você nos marcou muito. Isto sem falar na alegria que você naturalmente irradia. A Casa Geral tem a sua cara! Lá tudo fala dos seus cuidados, da sua diligente atenção, delicadeza e grande amor.
Permitam-me de concluir com uma nota pessoal. Nesse quatriênio foi gratificante sentir o apoio e a amizade das Irmãs da nossa Comunidade. Vocês queridas Irmãs, foram presença de afeto e ternura. Passei muito tempo fora nas idas e vindas, mas como era bom voltar pra casa! Contar com os cuidados da Irmã Nilsa tentando gratificar meu paladar. Quanta disponibilidade e presteza! A presença silenciosa e servidora da Irmã Vanda! A alegria e a delicadeza da Irmã Luciene, sua agradável companhia que tanto me faz bem! A resistência e oblação da Irmã da Paz, que evoca em nós a força de um legado de Amor-Sacrifício assumido com tanta amorosidade! A segurança e confiança na Irmã Iolanda, sua inestimável contribuição, revelação de um coração grande e disponível! Tudo é motivo de dar graças a Deus!
Fizemos o que foi possível fazer, porque contamos com a generosidade de cada uma das Irmãs da Congregação. Particularmente agradeço muito a Deus porque pude contar com uma pessoa que amo muito. Você Irmã Regina, recolheu as minhas lágrimas, deixou que elas adubassem o chão fecundo da História Cordimariana, minimizou os desafetos... Em você sempre encontrei colo que acolhe, palavra que anima, presença que incentiva, coração que cura, pés e mãos que providenciam...
Queridas Irmãs, queridos Irmãos, tenho uma grande confiança em relação ao futuro. Quanto a mim, como vocês já devem ter percebido, antes de tudo sou uma pessoa simples. O trabalho dos quatro últimos anos ensinou-me muitas lições sobre meus limites, como pessoa e mulher pecadora. Ensinou-me sobretudo a acolher com humanidade minhas fragilidades, meus fracassos e frustações.
Ao longo desses quatro anos não faltaram desencontros, incompreensões, impasses, lágrimas, sofrimentos, solidão, cansaço... Ao longo desses quatro anos, nem sempre respondemos com o mesmo amor e dedicação; nem sempre soubemos amar cada uma das Irmãs como desejariam. Muitas vezes, faltou da nossa parte a capacidade de arriscar caminhos novos, de abraçar a realidade sofrida do povo. Muitas vezes fomos mais analistas sociais do que companhia, presença, compaixão-misericórdia...
Conforta-nos a palavra do Apóstolo Paulo: “Esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa. Somos atribuladas por todos os lados, mas não desanimadas; somos postas em extrema dificuldade, mas não somos vencidas por nenhum obstáculo; somos perseguidas, mas não abandonadas; prostradas por terra, mas não aniquiladas.” (2Cor 4,7-9) Que este XVII Capítulo Geral nos projete para o futuro com mais ardor, mais garra e mais ousadia. Muito Obrigada!
Irmã Maria do Disterro Rocha Santos, FCIM Caucaia, 13 de dezembro de 2010 Abertura do XVII Capítulo Geral Ordinário
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