18 de janeiro de 2011

60 Anos de Presença Cordimariana em Caucaia (Ceará)

“Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus meu Salvador.” (Lc 1,46)

Saúdo com entranhável ternura todas as pessoas presentes a esta celebração de Ação de Graças, e todas que estão em sintonia conosco neste momento de louvor e gratidão.

“Celebrar é um verbo ético, indica uma maneira de se pôr na história, de viver as situações, de se relacionar com as pessoas, de ler os contextos. Nossa formação nos leva a dividir: tempos de morte, de guerra, de violência, e tempos de vida; tempos comuns, cotidianos, e tempos festivos. Para Deus não há tempo morto, tempo comum, todo tempo é kairós, tempo da sua vinda.” Assim nos ensina a Irmã Tea Frigerio. Viver o tempo, celebrar o tempo, fazer memória é o que estamos a fazer neste momento, que para nós se torna tempo de graça, tempo de bênção divina. Fazer do tempo presente o mais importante, apesar dos contratempos do caminho. Tudo é graça! Tudo é manifestação do amor de Deus por cada uma, cada um de nós.

Pablo Neruda afirma que, “tudo é altar”. No cotidiano celebramos a liturgia do coração, daquilo que permeia nosso cotidiano, daquilo que está impregnado a nossa vida. Hoje celebramos 60 anos de presença Cordimariana em Caucaia. A celebração de hoje não é um fim em si mesma, pois não se acaba o tempo longo de preparação. Ela é continuação de um novo recomeço que queremos assumir; ela é promessa, é compromisso assumido, da memória resgatada, viva e sempre atual do nosso Carisma. O Prof. Antônio Chaves Santana nos ensina que, “fazer memória é atualizar a história, é trazer o ontem para o hoje, o passado ao presente, o antigo ao novo. É revisitar a nossa história, é refundar o nosso Carisma para nos engajarmos num novo tempo, que exige imaginação e intuição profética.”

Há sessenta anos atrás, Dom Antonio de Almeida Lustosa – o amigo, o homem de Deus, o santo..., escancarou as portas do seu coração mais uma vez e nos apresentou esta terra. Diante da imensa arquidiocese de Fortaleza, por que Caucaia? Será que já nos demos ao trabalho de nos perguntar: Por que Caucaia e não outra cidade? A Irmã Tea ainda nos ajuda a refletir quando nos diz: “Perguntar na perspectiva bíblica é sinal de fidelidade. Sinal que estamos saindo da nossa arrogância, de ter tudo claro e certo. Então, perguntar se torna sinal de crescimento.”

Aqui, nesta terra, encontramos abrigo, acolhida, mãos estendidas. Aqui, nossa inesquecível Madre Maria de Jesus e as Irmãs da 1ª hora em Caucaia, comeram do pão da providência, passaram penúrias, atravessaram obstáculos, firmaram-se na mística do Amor-Sacrifício. Caucaia foi palco das grandes resoluções e descobertas da Congregação no pós Concílio. Foi e é palco, berço, escola da formação das futuras gerações de Cordimarianas e de muitas crianças e adolescentes das famílias desta terra.

Nos bairros, nas ruas, na praia, na Igreja de Caucaia existe a marca da presença Cordimariana. Presença atuante nas frentes pastorais e nos pequenos grupos, mas também presença escondida, anônima, silenciosa... presença orante, de imensa confiança N´Aquele a quem fomos chamadas a seguir: Jesus Cristo que hoje, mais uma vez, nos fortalece com a força do Espírito Santo. Prefiro não pronunciar nenhum nome, a fim de que não seja injusta com nenhuma Irmã que derramou sua vida, seu amor, sua complacente compaixão no meio do povo de Caucaia.

Dom Demétrio Valentini nos diz que o Jubileu nos incentiva a projetar com força esta luz sobre a realidade, e sentir como ela é benéfica para tornar o mundo mais de acordo com o mistério de amor que Deus revela em si mesmo, que nos envolve, e Ele propõe como inspiração para um novo relacionamento entre nós.”

Ao longo desses 60 anos não faltaram desencontros, incompreensões, impasses, lágrimas, sofrimentos, solidão, cansaço... Ao longo desses 60 anos, nem sempre respondemos com o mesmo amor e dedicação; nem sempre soubemos amar o povo de Caucaia com o seu jeito de ser. Muitas vezes, faltou da nossa parte a capacidade de arriscar caminhos novos, de abraçar a realidade sofrida do povo. Muitas vezes fomos mais analistas sociais do que companhia, presença, compaixão, misericórdia...

Conforta-nos a palavra do Apóstolo Paulo: “Esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa. Somos atribuladas por todos os lados, mas não desanimadas; somos postas em extrema dificuldade, mas não somos vencidas por nenhum obstáculo; somos perseguidas, mas não abandonadas; prostradas por terra, mas não aniquiladas.” (2Cor 4,7-9)

Ora, muito mais do que nossas falhas e contradições, que humildemente nos penitenciamos, muito mais do que as incompreensões que recebemos, foi o que conseguimos imprimir neste chão, na vida deste povo. Muito mais foi o que, gratuitamente recebemos dos benfeitores e benfeitoras da Congregação, dos amigos e amigas, do povo sofrido que continua nos ensinando e evangelizando. Por isto, nossa gratidão a Deus e ao povo bom de Caucaia, por tão grande dádiva de amor! Nossa palavra de gratidão a Deus por todas as Irmãs que por aqui passaram, sobretudo pelas Irmãs, que hoje, se alegram em participar da vida e do destino desta gente. Como Maria, elevamos a Deus o nosso canto de gratidão, pelas maravilhas que Ele, generosamente, realizou no meio de nós.

Com gratidão evoco mais uma vez a presença da Madre Maria de Jesus, lembrando as sábias palavras do querido Frei Macapuna: “Qual vaso de argila resistente, ela guardou, até quebrar, o perfume de Cristo, transmitindo-o com fidelidade a gerações e gerações, de Cordimarianas. A vocação do vaso, não reside na sua beleza, mas na sua capacidade de ser “lugar onde se deposita o belo, o precioso e o sagrado.” Que este Jubileu nos projete para o futuro com mais ardor, mais garra e mais ousadia. Muito Obrigada!

Irmã Disterro Rocha,FCIM
Caucaia, 30 de maio de 2009
60 anos de presença Cordimariana em Caucaia

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