30 de janeiro de 2011

Ser Coração de Maria na Compaixão-Misericórdia

Queridas Irmãs Cordimarianas,

“Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte.”(1Cor 1,27)

Estamos concluindo mais um ciclo de uma trajetória feita por muitas mãos, muitos corações... A nós coube a responsabilidade de ajudar a tecer os fios do tecido Cordimariano e o fizemos em sintonia com toda a Congregação, ao mesmo tempo em que buscávamos imprimir, do nosso jeito, as marcas do nosso Carisma: Ser Coração de Maria na Compaixão-Misericórdia. Para tanto, vivenciamos um itinerário pautado na comunhão recíproca, na confiança n´Aquele que nos chamou a vivenciar esse misterioso desígnio, com a simplicidade das pessoas que se reconhecem abertas para acolher a inédita mensagem que foi chegando a nós de diversas formas. Tudo constituiu espaço e oportunidade de crescimento. Tudo foi graça e dom de Deus!

E aqui estamos, para prestar contas do dom a nós confiado. Nós o fazemos com a simplicidade e a transparência que sempre marcaram nosso jeito de trabalhar. Aqui está o resultado de muitas noites em claro, de muito amor, de muita vida doada... Da nossa parte ficou o aprendizado, a paciência em esperar, sobretudo a certeza de que podemos ratificar: “Somos servas inúteis; fizemos o que deveríamos ter feito” (cf.  Lc 17,10). Todavia, somos conscientes que não seríamos capazes de chegar aonde chegamos, não fosse a cumplicidade, a parceria, o apoio que recebemos de diversas formas e situações. Por tudo, expressamos nossa gratidão e reconhecimento a todas as Irmãs e a cada uma em particular. Tudo isto fortaleceu o sentido de pertença à Família Cordimariana.

Nesse quatriênio, assumimos o seguinte objetivo: “Comprometer-se com a dinamização e o acompanhamento da refundação Cordimariana, para que a Congregação, humanizada e sintonizada com as grandes questões da humanidade, realize sua missão específica na Igreja e no Reino, testemunhando o amor de Deus.” Para tanto, tivemos como prioridades: Humanização das Relações – Pastorais da Juventude e Vocacional – Formação – Lideranças – Missionariedade – Manutenção do Patrimônio e  Sistema Financeiro. Nem tudo foi realizado a contento, mas demos passos significativos, sobretudo no que se refere à humanização das relações, o crescimento do ardor missionário e uma consciência vocacional mais afinada e comprometida. Inquietamos-nos com a formação das novas gerações de Cordimarianas e continuamos na busca para acertar o passo. Muitos são os desafios que persistem e desejamos que tenhamos sempre a coragem de olhar longe, compreendendo-nos caminhantes de um caminho a ser construído.

Com Maria, a mulher do discipulado missionário, sempre inquieta que soube confiar no “impossível de Deus” (cf. Lc 1,37), colocamos no altar da nossa Vida Consagrada Cordimariana, os frutos que humildemente oferecemos, que recolhemos entre lágrimas e alegrias, entre luzes e sombras, entre incertezas e desolações, mas sobretudo nos sentindo acolhidas pela entranhável amorosidade do Coração de Deus e pela presença terna de cada uma das Irmãs. Que possamos continuar sendo bênção e pão que parte e se reparte, “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Recebam nosso afetuoso abraço, acompanhado de nossas orações. Com estima e gratidão,

Irmã Maria do Disterro Rocha Santos

Caucaia, 21 de novembro de 2010
                                                                                                             94 Anos Cordimarianos

27 de janeiro de 2011

Uma Centelha de Paz!

Com a Irmã Consolata, queremos lembrar todas as Irmãs Cordimarianas que compartilharam da sua existência, que tiveram o privilégio da sua amizade... E como não poderia deixar de ser, lembramos hoje alguém muito especial que continua ensinando ao povo desta terra (em outra versão), o que significa amar e servir; o que significa ofertar não um pouco de si, mas o melhor de si mesma. Como uma lâmpada ela deixa iluminar todos que compartilham da sua vida. Ela não é a luz, mas uma centelha, uma faísca da verdadeira Luz. Porque é esta centelha, ela é chamada de Paz. Chega de mansinho, sem muito alarde, mas podemos sentir o perfume da sua presença, da sua carismática personalidade. Com a Irmã Consolata a senhora, Irmã da Paz, pôde enfrentar as tormentas de tempos difíceis, mas cheios de possibilidades, cúmplices daquele sonho de Deus “de vida abundante para todos” (cf. Jo 10,10).

Com júbilo e gratidão, o Centro de Vida agradecido, louva ao Senhor por sua existência fecunda de 90 anos a nos ensinar o que significa ser incansável na arte de fazer o povo aprendiz e sedento da Palavra de Deus. Obrigada, querida Irmã da Paz, pela vibração interior que sentimos do seu coração, desde o primeiro momento da continuação desta obra e pela partilha que generosamente a senhora faz a cada mês. É o óbolo da viúva (cf. Lc 21,2-3) transformado em bênção de vida e amorosidade.

Irmã Disterro Rocha, FCIM
Entre as palavras que pronunciei por ocasião da comemoração dos 5 anos do Centro de Vida Irmã Maria Consolata (01/05/2010)

20 de janeiro de 2011

Pe. Pedro Paulo - Amigo de Fé

Pe. Pedro Paulo – Amigo que, pouco a pouco, foi entrando na minha vida. Existia entre nós um misto de confiança e cumplicidade. Sim, porque um amigo não se escolhe, ele vai chegando como quem nada quer, e quando percebemos sentimos que podemos confiar, compartilhar a vida. Esse amigo de fé deixou marcas profundas...

O extraordinário na sua vida, a partir do meu olhar, está alicerçado naquilo que a Bíblia chama de simplicidade, e do que Jesus Cristo chamou de sabedoria revelada aos pequenos (cf. Lc 10,21). Sua vida foi um retalho de feitos do cotidiano, tecido com as nuances da escuta, da valorização e atenção à pessoa, de uma fé capaz de abraçar os desígnios de Deus em sua vida, sem apelar para os grandes porquês. Ele viveu intensamente a vida, acolhendo com reverente dignidade o Projeto que Deus havia pensado para ele.

Seu testemunho vivencial de amigo e pastor fez deste homem de Deus, um peregrino do amor por todos e todas. Assumiu as limitações que carregava referente à sua fragilidade humana, com a dignidade de quem conhecia e experimentava a fundo a entranhável força de Deus. Fez das limitações da sua saúde física uma oferta ao Senhor em cada Eucaristia que celebrou, pois bem sabia o sentido de uma vida entregue, doada. Em Cristo e com Cristo, tornou-se, pela oferta da sua vida, uma referência de santidade para todos e todas nós que tivemos o privilégio de conhecê-lo e amá-lo.

Por isto, não posso deixar de louvar e bendizer ao Senhor, por ter colocado no meu caminho e de todas nós, Irmãs Cordimarianas, uma pessoa tão especial, tão terna, como o Pe. Pedro Paulo. Gratíssima, amigo de fé, pelos sonhos que juntos alimentamos de um mundo bem melhor para  todos e todas.

                                                                      Irmã Maria do Disterro Rocha Santos,FCIM
                                                                    Superiora Geral – Irmãs Cordimarianas
                                                                     Caucaia, 05 de fevereiro de 2009.


19 de janeiro de 2011

CENTRO DE VIDA IRMÃ MARIA CONSOLATA


E já celebramos 05 anos (1º. lustro) dessa tenda que, “acolhendo os pequeninos, busca acender a “lareira do amor” através da inclusão social, cidadania, resgate da autoestima e da promoção humanoespiritual”.

Celebrar cinco anos de sua existência é motivo especial de louvar ao Deus da VIDA, como diz o salmista (Sl  96,1)  “cantar um canto novo ao Senhor!” Por que?

 Pelas maravilhas que o próprio Senhor vem realizando através dessa nossa obra social. É maravilhoso comprovar que muitos amigos e amigas, muitas Comunidades Cordimarianas vêm dando sua parcela de colaboração para que, aos poucos, o nosso Centro de Vida vá cumprindo a sua missão. Missão, sobretudo, de resgatar a dignidade dos empobrecidos e empobrecidas do Bairro Padre Júlio Maria e adjacentes.

É maravilhoso também perceber que um Grupo de Voluntários, Voluntárias, generosamente, coloca-se a serviço dando o melhor de si pela caminhada dessa obra tão preciosa aos nossos olhos.

E como é maravilhoso podermos continuar a missão da nossa querida Irmã Consolata quando caminhou, por vários anos, com o seu Grupo de Jovens – a UJEC, construtores e construtoras, juntamente com ela, deste recinto tão precioso, desta Casa tão agradável. Temos certeza de que hoje, já como senhores e senhoras, sentem-se alegres e felizes ao perceberem que a VIDA aqui não morreu, ao contrário, tornou-se mais VIDA, conforme o Projeto de Jesus Cristo, (Cf. Jo,10,10).

E, nesta caminhada de cinco anos, como é maravilhoso podermos constatar a presença animadora, incentivadora, de nossa querida Superiora Geral Irmã Maria do Disterro Rocha Santos, oferecendo sempre o melhor de si, até mesmo o seu precioso tempo como verdadeira operária, missionária incansável pelo crescimento do CENTRO de VIDA.

Parabéns, Centro de Vida Irmã Maria Consolata!

Parabéns, Irmã Disterro!

Parabéns a todos aqueles e aquelas que fazem o Centro de Vida!  Ele não existiria sem a colaboração de cada um, de cada uma que carrega este sonho de Vida no coração!


Caucaia, 01 de maio de 2010

Irmã Iolanda Monte, FCI

Posse Conselho 2011/2014

18 de janeiro de 2011

Abertura do XVII Capítulo Geral Ordinário da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria - Cordimarianas

Caríssimo Frei Moacir Casagrande, Queridas Irmãs do Conselho Geral em exercício, Queridas Irmãs eleitas para animar a Vida Consagrada Cordimariana,
Prezadas Irmãs Capitulares e demais Irmãs Cordimarianas, Queridas Formandas, Estimado Prof. Antônio Chaves,

As portas da nossa casa se abriram para acolher todos e todas. Ansiosamente esperávamos por este momento. E ele chegou! Chega a nós como um dom! Um precioso presente! Chega a nós como acolhida amorosa, como oferta de si. Sintamo-nos pois acolhidos e acolhidas, sentindo o bom odor, o perfume de Cristo que neste dias se derramará sobre todas/os nós, e através de nós sobre toda a Igreja, sobre todo o povo.

Finalmente podemos dizer: “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 118/117) Este é o dia em que fazemos a abertura do nosso XVII Capítulo Geral Ordinário. Pablo Neruda afirma que, “tudo é altar”. No cotidiano celebramos a liturgia do coração, daquilo que permeia nossa vida, daquilo que está impregnado o nosso ser. A celebração desse Capítulo não é um fim em si mesmo, pois não se acaba o tempo longo de preparação. Ele é continuação de um novo recomeço que queremos assumir; ele é promessa, é compromisso assumido, da memória resgatada, viva e sempre atual do nosso Carisma.

Como os Capítulos anteriores, este XVII Capítulo Geral é um tempo extraordinário de graça para a nossa Congregação e para todos os que participam de sua vida e missão. “O Capítulo faz parte da unidade, aponta para os próximos passos.” (Antonio Chaves) É uma grande graça e por isso não podemos desperdiçar este momento de tomar decisões audaciosas, corajosas e mesmo inesperadas. Faltam seis anos para o centenário da Congregação. Construir o futuro da vida e da Missão Cordimariana exigirá que tomemos decisões que nos permitam ser o que somos chamadas a ser: mulheres apaixonadas por Deus, irmãs que evangelizam pela marca da compaixão-misericórdia, religiosas que edificam comunidades marcadas por relações humanizadas; e como nosso Fundador, discípulas do Senhor, entranhadas de um coração missionário; um coração inquieto, sobretudo pela capacidade de olhar longe – ver a amplidão dos apelos da humanidade enfraquecida; de “olhos fixos em Jesus” fazer a experiência de deixar-se penetrar pelo dinamismo da Palavra, a exemplo da Mestra do discipulado missionário: “E Maria conservava todos os acontecimentos, meditando-os em seu coração” (cf. Lc 2,19.51).

Assim escutamos do Prof. Antonio Chaves de Santana, no dia 14 de novembro de 2009: “O Capítulo é tempo propício de renovar a nossa consagração ao Senhor, de pastorear o nosso carisma e encarnar a nossa espiritualidade em tempos de fortes mudanças. É um tempo salutar de elevar nosso olhar para o alto, porque é do Senhor que desce a luz divina, a fim de discernirmos os sinais dos tempos. É tempo de releitura da nossa vida cordimariana, de descobrir seu significado pascal e testemunhar o nosso carisma: Ser Coração de Maria, na Compaixão-Misericórdia.” E mais: “Celebrar um Capítulo é voltar às nossas raízes, é nos refontizar, ir ao poço da nossa história para beber a água viva e mergulhar na mais original inspiração profética de Padre Júlio Maria e Madre Maria de Jesus. É resgatar um tempo de felicidade e de intensa paixão pelo Evangelho. É projetar para frente com renovado ardor missinário.” Hoje é o dia que o Senhor fez para nós! É o momento da decisão! Não podemos nos conformar em assumir uma atitude apática, de nos colocar fora do processo de conversão pessoal, comunitária, congregacional. A responsabilidade é de todas nós!

Durante o último ano nos debruçamos sobre o tema que norteou toda uma busca conjunta: Discípulas Missionárias Cordimarianas: passado ousado, impulso profético para um novo tempo. Vasculhamos nosso passado e reconhecemos que ele foi de fato ousado. Nossa inesquecível Madre Maria de Jesus e as Irmãs da 1ª hora, comeram do pão da providência, passaram penúrias, atravessaram obstáculos, firmaram-se na mística do Amor-Sacrifício. Em todas as horas podemos sentir a força do testemunho de muitas Irmãs que se deixaram fascinar pelo convite do Mestre, num discipulado missionário de imolação, de vida doada e derramada, de pão que se parte e se reparte para que outras pessoas possam sentir a felicidade de saberem-se bem amadas. Algumas dessas nossas Irmãs carregam no seu corpo as marcas do sofrimento, do desconforto, mas aprenderam ao longo dos anos o que significa o amor sacrifical e o sacrifício amoroso. Esse testemunho vivencial não é divulgado na mídia, mas aí reside a mística que sustenta o tecido cordimariano. Particularmente alimento por essas Irmãs um amor referente cheio de unção, porque são elas que tantas vezes nos aquecem, quando somos tentadas a viver uma Vida Consagrada Cordimariana acanhada, que fala pouco para o povo, sobretudo para a juventude.
Esse passado não nos paralisa. Ele nos provoca a olhar para frente, para todos os lados. Ele nos inquieta, nos coloca em crise... A Vida Religiosa Consagrada é profética por vocação! Rezamos para termos a coragem de assumir esse impulso profético para um novo tempo que queremos construir. O novo tempo chegou! Não pode ser postergado! A urgência do novo tempo que nos é dado viver nas próximas horas, nos próximos dias, nos próximos anos deve nos fazer abertas para acolher a novidade do Espírito Santo. É preciso ouvidos atentos para escutar a Palavra como o profeta: “Toda manhã o Senhor desperta meus ouvidos, para que escute como discípula” (cf. Is 50,4). Ele ainda nos ensina: “Não fiquem lembrando o passado, não pensem nas coisas antigas; vejam que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando agora, e vocês não percebem? Abrirei um caminho no deserto, rios em lugar seco” (Is 43,18-19).

Posto isto, gostaria de ratificar o que tão claramente foi sentido e experienciado nos últimos quatro anos. Gratidão foi o mantra que naturalmente foi brotando de nossas entranhas a partir de uma experiência de fé. Hoje queremos elevar nossa palavra de gratidão a Deus por sua providente e benevolente presença em nossa vida. Gratidão às Irmãs que nos ajudaram, que somaram conosco, que ofereceram um pouco de si. Para nós o pouco foi muito! Em algumas Comunidades vimos e sentimos essa experiência ser derramada abundantemente! Como Maria, elevamos a Deus o nosso canto de louvor pelas maravilhas que Ele, generosamente, realizou em nós e através de nós.

Na primeira sessão do último Capítulo Geral, quando o meu nome foi confirmado como Superiora Geral, citei o Apóstolo Paulo quando esse, reconhecendo-se fraco experimenta a força de Deus. Naquela ocasião pedi a todas vocês: Me ajudem! Lembram? Gostaria de dizer que sou muito grata por vocês terem levado a sério esse meu pedido, pois verdadeiramente me senti ajudada, amparada, consolada. Talvez eu não tenha cumprido toda a minha missão em relação a vocês, mas vocês sim. Por isto sou eternamente grata por tudo quanto recebi de forma tão gratuita!

Foi gratificante sentir a corresponsabilidade das Equipes de Assessorias que animaram a missão nos vários espaços de presença cordimariana. É certo que umas deram passos mais largos, todavia, cada uma procurou oferecer o melhor de si. E o fez com amor e dedicação. Por isto nossa palavra de gratidão as Assessorias de: Educação, Saúde, Inserção, Espiritualidade, Leigos/as do Carisma Cordimariano, Animação Vocacional, Pastoral de Juventude, Formação, Obra Social.

Nossa gratidão às Superioras Regionais e suas Equipes que animaram a vida cordimariana com dinamismo e muito amor. Cada Região pôde revelar uma faceta do nosso rosto, numa demonstração singela de alegria, convivência, formação, compromisso e partilha. Igualmente agradecemos às Superioras Locais pelo empenho e desvelo, pelo sentido de pertença à nossa Família Cordimariana. Com vocês, ao lado de vocês, no dinamismo Regional e Local, sentimos que o serviço de animação da nossa vida religiosa se torna mais leve.

Agradecemos de coração a Equipe de Formação, na pessoa da Irmã Maria de Jesus pela presteza e amor com que assumiu essa missão, ajudando a refletir, encaminhando proposta, facilitando o processo formativo. Um agradecimento especial às nossas Formadoras pela coragem em assumir tão desafiante missão. Não é fácil! Mas vocês aceitaram a missão! Podemos dizer que a formação é um longo aprendizado, às vezes mesclado por incompreensões e poucas consolações. É quando decidimos acolher a humanidade em processo de crescimento e nunca acabada, que começamos a nos compreender a caminho. “Caminheira, você sabe, não existe caminho... passo a passo, pouco a pouco e o caminho se faz.” O caminho não está feito e não estará enquanto existir uma pessoa na face da terra. O caminho se faz, caminhando...

Foi gratificante também perceber o Centro de Vida Irmã Maria Consolata como espaço acolhedor dos nossos destinatários e contemplar a corresponsabilidade das Irmãs e pessoas leigas que ali procuram servir, na tentativa de resgatar-lhe a autoestima e trabalhando na construção de uma consciência cidadã. Pouco a pouco, vamos acertando o passo! Por tudo que recebemos como oferta e dom materiais e humanos a nossa gratidão a Deus. Igualmente agradecemos o crescimento significativo do Grupo do Carisma Cordimariano – a parceria com os/as Missionários/as Leigos/as – essa intuição que está na raiz da nossa história, de vidas que se doam a partir do Carisma da Compaixão-Misericórdia. Ao lado de vocês recolhemos os sinais visíveis da partilha e compromisso, que nos faz perceber a dimensão da nossa missão.

Vivemos um ano intenso! Os encontros multiplicados foram mais uma oportunidade da nossa busca conjunta. O mais bonito é que o vivenciamos nos sentindo mais família! Foi gratificante poder contar com a Equipe de Apoio desse Capítulo sabendo que mesmo diante de tantas ocupações vocês se colocaram disponíveis para servir mais uma vez a Congregação. Foi gratificante escutar o sim generoso e livre de todas as Irmãs que se colocaram disponíveis diante da indicação de todo o corpo congregacional, para o serviço de animação nos próximos anos. Nós todas tivemos a alegria de cantar o nosso canto de gratidão a Deus, pela eleição das nossas Conselheiras Gerais: Irmã Socorro Silva, Irmã Lucila Porto, Irmã Ana Teresa Bezerra e Irmã Bernadete Neves. Nós todas acolhemos vocês, queridas Irmãs, como enviadas por Deus para nos ajudar no próximo quatriênio. Abraçando cada uma de vocês, repetimos a palavra do Frei Moacir Casagrande, que muito nos consolou durante o nosso retiro: “A força que precisamos vem d´Ele, para assumirmos os desafios da missão.”

Pelo que pudemos realizar, enquanto Governo, devo atribuir o mérito à nossa capacidade de diálogo, sintonia, amorosidade, corresponsabilidade, leveza... nos deixando guiar pelas intuições que nos impactaram, que nos desafiaram a “acreditar no impossível de Deus em nossas vidas” (cf. Lc 1,37). Foi muito gratificante trabalhar com cada uma de vocês: Irmã Socorro Laurentino, Irmã Letícia Dias, Irmã Silvanete Pontes, Irmã Elizabete Barboza. Nossos encontros a cada mês foram revestidos de grande empenho, ao mesmo tempo de alegria e prazer.

Você, Irmã Socorro, foi aquele ouvido atento. Agradeço muito a Deus a graça que tive de contar com você na nossa Equipe. O seu amor e zelo pela Congregação, o seu coração generoso capaz de oferecer o melhor tempo para nossa Família, a sua capacidade e paciência em animar o trabalho vocacional nos fazem cantar Ação de Graças. Você sempre colocou os interesses da Congregação e da Pastoral Vocacional à frente dos seus interesses e mesmo necessidades pessoais. Isto nos faz pensar numa vida derramada, onde podemos perceber os sinais visíveis de uma Vida Consagrada Cordimariana íntegra e fiel. Com você me senti apoiada e tantas vezes consolada!

Você, Irmã Letícia, é expressão de atenção, de cuidado, de desvelo, sobretudo por aquela porção da Congregação muito preciosa para nós: nossas Irmãs mais fragilizadas. O seu testemunho de ternura já é uma marca antiga, pois sempre a vimos percorrendo a enfermaria visitando uma, acolhendo outra, animando quem encontra no caminho. Na nossa Equipe você foi aquele sinal visível de alegria e nos ensinou muito como assumir grandes responsabilidades revestidas de simplicidade e leveza. Ao mesmo tempo você é aquela que ensina às novas gerações o amor e o respeito por quem é mais adiantada na idade, sabendo tão bem, conjugar respeito e atenção para quem serve e anima. Sua presença me animou e me deu muita alegria.

Você, Irmã Silvanete, foi exemplo de solicitude, disponibilidade, ternura e amizade. Sua presença nos ajudou a tornar o fardo mais leve, talvez não tanto pelo acúmulo de serviços que tivemos que assumir, mas pela sua capacidade de comunhão, ajudando-nos a refletir e encaminhar soluções. Sua presença na nossa Equipe a tornou mais leve! A sua palavra amiga, o seu jeito de ser nos marcaram e aliviaram tensões e dificuldades. Você foi aquele coração sempre atento e disponível. Sou grata a Deus e a você pelo serviço que amorosamente prestou, como sinal de pertença à nossa Congregação.

E você Irmã Elizabete, o que dizer de você? Não existem palavras! O que fazemos é apenas uma pequena tentativa de chegarmos um pouco perto, de nos aproximarmos mesmo que vagamente do que sua presença e contribuição significou para toda a Congregação. Não teria a coragem de dizer nada sem antes fazer uma confissão pessoal e pública. Tive a graça de conviver a segunda vez com você. Foram oito anos de convivência, mas gostaria de destacar os últimos quatro anos. Pelas vezes que não fui aquele coração compassivo e misericordioso; pelas vezes que a feri com minhas intransigências, com minha impaciência, com minha incapacidade de a compreender quando você mais precisou, imploro de você o seu perdão e através de você, peço perdão a cada Irmã que magoei, a cada uma que não soube compreender, a todas que feri, que não escutei... E gostaria de ratificar: nem você e nenhuma das Irmãs não me devem nada. Nós sim devemos muito a você! Particularmente lhe devo muito. Durante esses quatro anos você foi muitas vezes os meus pés, as minhas mãos, a minha cabeça e até meu coração! Nós não estaríamos aqui hoje com tudo preparado, não fosse a sua eficiente e amorosa capacidade de encaminhar todas as coisas. Eu a vi muitas vezes presa à frente do computador altas horas da noite e já a encontrava desperta em frente do mesmo computador desde as primeiras horas do dia. Foi um trabalho duro, inclemente, mas rico e fecundo pelo amor que você generosamente derramou. Os bens materiais são necessários, todavia os simbólicos e afetivos são os que marcam a vida das pessoas e você nos marcou muito. Isto sem falar na alegria que você naturalmente irradia. A Casa Geral tem a sua cara! Lá tudo fala dos seus cuidados, da sua diligente atenção, delicadeza e grande amor.

Permitam-me de concluir com uma nota pessoal. Nesse quatriênio foi gratificante sentir o apoio e a amizade das Irmãs da nossa Comunidade. Vocês queridas Irmãs, foram presença de afeto e ternura. Passei muito tempo fora nas idas e vindas, mas como era bom voltar pra casa! Contar com os cuidados da Irmã Nilsa tentando gratificar meu paladar. Quanta disponibilidade e presteza! A presença silenciosa e servidora da Irmã Vanda! A alegria e a delicadeza da Irmã Luciene, sua agradável companhia que tanto me faz bem! A resistência e oblação da Irmã da Paz, que evoca em nós a força de um legado de Amor-Sacrifício assumido com tanta amorosidade! A segurança e confiança na Irmã Iolanda, sua inestimável contribuição, revelação de um coração grande e disponível! Tudo é motivo de dar graças a Deus!

Fizemos o que foi possível fazer, porque contamos com a generosidade de cada uma das Irmãs da Congregação. Particularmente agradeço muito a Deus porque pude contar com uma pessoa que amo muito. Você Irmã Regina, recolheu as minhas lágrimas, deixou que elas adubassem o chão fecundo da História Cordimariana, minimizou os desafetos... Em você sempre encontrei colo que acolhe, palavra que anima, presença que incentiva, coração que cura, pés e mãos que providenciam...

Queridas Irmãs, queridos Irmãos, tenho uma grande confiança em relação ao futuro. Quanto a mim, como vocês já devem ter percebido, antes de tudo sou uma pessoa simples. O trabalho dos quatro últimos anos ensinou-me muitas lições sobre meus limites, como pessoa e mulher pecadora. Ensinou-me sobretudo a acolher com humanidade minhas fragilidades, meus fracassos e frustações.

Ao longo desses quatro anos não faltaram desencontros, incompreensões, impasses, lágrimas, sofrimentos, solidão, cansaço... Ao longo desses quatro anos, nem sempre respondemos com o mesmo amor e dedicação; nem sempre soubemos amar cada uma das Irmãs como desejariam. Muitas vezes, faltou da nossa parte a capacidade de arriscar caminhos novos, de abraçar a realidade sofrida do povo. Muitas vezes fomos mais analistas sociais do que companhia, presença, compaixão-misericórdia...

Conforta-nos a palavra do Apóstolo Paulo: “Esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa. Somos atribuladas por todos os lados, mas não desanimadas; somos postas em extrema dificuldade, mas não somos vencidas por nenhum obstáculo; somos perseguidas, mas não abandonadas; prostradas por terra, mas não aniquiladas.” (2Cor 4,7-9) Que este XVII Capítulo Geral nos projete para o futuro com mais ardor, mais garra e mais ousadia. Muito Obrigada!

Irmã Maria do Disterro Rocha Santos, FCIM Caucaia, 13 de dezembro de 2010 Abertura do XVII Capítulo Geral Ordinário

Um novo recomeço...

Saúdo com muito afeto Dom Plínio José, Bispo de Picos, Frei Moacir Casagrande, Assessor do XVII Capítulo Geral, juntamente com os Padres – Amigos que concelebraram esta liturgia de Ação de Graças; Igualmente saúdo o Prof. Antonio Chaves de Santana, que ao nosso lado exerce o seu sacerdócio com amor e muita unção e que esteve tão mais próximo durante esse ano capitular;

Os amigos e amigas, os de longe, os de perto... os membros do Grupo de Leigos e Leigas do Carisma Cordimariano, o Grupo Pró-Vida, as Educadoras e Educadores das Escolas Cordimarianas, nossas Vocacionadas e Formandas, os Funcionários e Funcionárias que dividem conosco o labor de cada dia, nossos queridos familiares... a todos e todas saúdo com ternura e amorosidade;

Com reverência e grande afeição saúdo as Cordimarianas, Irmãs com as quais dividimos os sonhos, a mística, a cumplicidade de um Carisma: Ser Coração de Maria na Compaixão-Misericórdia...

Gratidão! Gratidão! Gratidão! Gratidão a Deus, por todas as maravilhas que Ele realizou em nossas vidas nesse Ano Capitular! Percorremos um itinerário onde fomos provocadas a nos perceber como discípulas missionárias que espreitam o passado ousado e anseiam por abraçar o novo tempo que já chegou. Gratidão a todos e todas que foram mediação de Deus nesse caminho, especialmente a Frei Moacir Casagrande, nosso querido assessor e ao Prof. Antonio Chaves que nos fez ver no início desse caminhar, a grandeza de nossa história; a cada Cordimariana que corresponsavelmente assumiu esse processo como uma grande oportunidade, como espaço de crescimento e conversão. Gratidão a Dom Plínio que veio de Picos para estar com uma porção do seu rebanho, que com sua presença amiga nos faz sentir mais Igreja, recordando-nos a comunhão pastoral com nossos pastores e toda a Igreja; essa Igreja da qual todos, todas nós somos membros. A cada um, cada uma que veio celebrar conosco esta Ação de Graças e compromisso, a nossa palavra de gratidão! A presença de todos significa muito... “Um carisma não é dado, é confiado. Não pertence à pessoa ou ao grupo que o recebe, mas à Igreja. (...) Estes últimos são seus guardiães, mas não seus proprietários. O povo todo de Deus tem, portanto, um direito e um dever de vigiar esta parte de seu patrimônio, um direito e um dever exercido pela hierarquia da Igreja em nome do povo de Deus, especialmente através da aprovação das Constituições de cada instituto. O capítulo de um instituto, portanto, não é um assunto privado que diz respeito somente aos membros deste instituto. Trata-se de um acontecimento eclesial que é de interesse para toda a comunidade cristã. É normal que esta estivesse interessada nele e preocupada com suas orientações. Para um instituto, é a ocasião por excelência de se tornar de novo consciente de suas ligações com a Igreja em cuja missão desempenha uma parte, e com o mundo ao qual foi enviado por Cristo.” (Armand Veilleux, OCSO)

Silêncio...

Queridas Irmãs, queridos Irmãos,
É preciso muita coragem para acolher o legado que hoje a Congregação coloca não só em nossas mãos, mas em nossos corações. A coragem de, num mundo cada vez mais fragilizado, de relações líquidas que se desfazem com a maior facilidade (cf. Bauman), de tempos de crise de valores, imprimir em nossos corações a paixão por Cristo, a paixão pela humanidade...
É este o momento, o tempo que temos! O tempo é uma riqueza, um capital precioso! Na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para armar sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14). O tempo kronos – cronológico, de todo um Ano Capitular chegou ao fim, o tempo kairós não pode ficar em nós apenas como uma boa lembrança. São Paulo nos adverte: “Não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: No tempo favorável, eu te ouvi. E no dia da salvação vim em teu auxílio. Eis agora o tempo favorável por excelência. Eis agora o dia da salvação!” (2Cor 6,1-2). É importante saber ler todos os momentos. Fazer a leitura teológica da vivência cotidiana, como Maria, que sabia meditar todos os acontecimentos em seu coração (cf. Lc 2,19.51). Neste tempo que nos é dado viver, podemos nos alegrar, porque é Deus mesmo quem nos visita. A Encarnação é a maior manifestação de Deus. A história é o lugar da intervenção de Deus. É Ele que a conduz, que a guia! Deus tem nas suas mãos o destino da história, da nossa história e nós participamos dela. Nesta ótica não existe tempo profano, tempo vazio, e sim tempo sagrado, tempo precioso pra viver. Ele é único! Se o deixamos passar, não retornará mais. A visita que o Senhor faz é irrepetível. Cada hora é única! Este momento é único para todos, todas nós.

Hoje, como o velho Abraão, somos chamadas a contemplar as estrelas do céu – assim será nossa posteridade – fecunda, prenhe de possibilidades... A fecundidade tem a ver com quantidade, mas a transcende. É essa a nossa esperança porque confiamos acima de tudo n´Aquele que nos chamou a viver este misterioso desígnio: Ser coração de Maria na Compaixão e Misericórdia. O nosso coração alimenta esta certeza. Pode ser que não cheguemos lá..., com certeza a maioria de nós não experienciará esta realidade, mas, como Moisés, vislumbraremos de longe, até onde nossos olhos possam alcançar, lá onde poderemos chegar. E, com certeza, as novas gerações de Cordimarianas trilharão este caminho, pisarão este sagrado chão, colherão os frutos maduros de uma vida de entrega e doação.

Ontem vivenciamos um acontecimento que marca a nossa vida. Não só tivemos a alegria de enviar Irmãs individualmente para novos campos de missão, mas de enviar Comunidades capazes de abrir atalhos e caminhos de possibilidades na Amazônia. Com isto, ratificamos a crença na profecia inquietante de Júlio Maria: “Eu, eu quero a Amazônia.” Abraçar o desconhecido, andar por caminhos nunca andados, romper as fronteiras do já conhecido, é dizer de que tamanho somos nós. Sim, porque “somos do tamanho dos nossos sonhos” (Fernando Pessoa), já dizia o poeta. E, mais do que isto! É redesenhar um itinerário cordimariano na mística do Amor-Sacrifício, com a esperança e a alegria de quem sabe o que significa se doar pelos últimos. É sair do conforto das nossas seguranças, sejam elas afetivas ou materiais e reinventar um jeito novo de viver o Carisma Cordimariano.

Com nossa vida e missão, atualizemos a profecia de Isaías: “Dilata o espaço da tenda, as lonas das tuas moradas sejam esticadas! Não economizes nada! Alonga as tuas cordas, as tuas estacas, faze-as firmar, pois à direita e à esquerda vais transbordar: tua descendência herdará nações que povoarão as cidades desoladas” (Is 54,2-3). É este o nosso destino, pois somos filhas de um grande missionário. Nossa querida Madre Maria de Jesus, guardiã do nosso Carisma, da nossa Espiritualidade e do nosso Lema Amor-Sacrifício, como nos recordou Frei Macapuna em 2008, “qual vaso de argila resistente, guardou até se quebrar, o perfume de Cristo, transmitindo-o com fidelidade a gerações de Cordimarianas. A vocação do vaso não reside na sua beleza, mas na sua capacidade de ser lugar onde se deposita o belo, o precioso e o sagrado.”

As três carnaúbas que foram replantadas na frente da nossa casa é um marco da celebração desse Capítulo. Elas estão aí para nos lembrar, como nos ensina Pe. José Luís, CShalom, que “o carnaubal é o reino das pessoas que doam a vida. Na Eucaristia celebramos a nobreza do amor-serviço. O amor gera, cuida e sustenta a vida plena. O reino da carnaúba estende-se na simplicidade, nos terrenos alagados e na terra seca. É um reino abundante, denso e extenso. É sóbrio. É um reino sereno e de paz. O carnaubal não se esconde, mas também não se exibe. Permanece. O reino da carnaúba é oferta do nosso chão, onde a vida corre escondida. É o reino do serviço e da partilha.”

Queridas Irmãs que hoje assumem comigo este desafiante, ao mesmo tempo fascinante ministério do poder-serviço: Socorro Silva, Lucila Porto, Ana Tereza Bezerra e Bernadete Neves: Alegro-me por tê-las por mais perto nos próximos quatro anos. Juntas, enfrentaremos os vendavais e as turbulências deste novo tempo que nos é dado experimentar. Mas não estamos sozinhas! Junto a cada Irmã e todo o corpo congregacional, cuidaremos do precioso dom que hoje recebemos. A maior força de uma equipe consiste na capacidade que ela tem de criar comunhão, de imolar-se em favor das pessoas que Deus coloca em seu caminho, em oferecer não um pouco de si, mas tudo de si, isto é, o que temos de melhor. Mais do que apontar erros, é ajudar a redescobrir o que significa amar na gratuidade; o que significa viver sob a consigna do amor-sacrifício; o que significa construir relações de justiça, fraternidade, generosidade, amorosidade... É isto que o Evangelho chama de Reino de Deus.

Hoje, mais que há quatro anos atrás, estou convicta do que é viver o Mistério Pascal. É isto! Viver o Mistério Pascal! É solidão! É morte! É carregar a cruz! É por vezes sentir-se, experimentar-se abandonada! É despojar-se da tirania da prepotência, da autossuficiência, do julgamento precipitado... É colocar-se de joelho diante do Mistério! É inclinar-se diante do mistério de tantas vidas que o Senhor coloca à nossa frente. É ousar ir mais longe, é vibrar com todos os sinais de vida que podemos construir. É viver a alegria da comunhão universal. Tudo isto é Mistério Pascal! É ter a capacidade de esperar pacientemente a semente brotar... É Ressurreição! É viver o tempo kairológico – graça que invade nosso ser, que nos faz ser mulheres transfiguradas, felizes, comprometidas com a causa da vida (cf. Jo 10,10).

Nós hoje assumimos uma grande missão! A missão de projetar a Congregação para o futuro, em tempos de crise, sabendo e acreditando n´Aquele que nos consagrou para testemunhar a esperança e a alegria de servir às gerações de Cordimarianas. E como nos recordava o Professor Antonio Chaves, “os nossos fundadores foram abraâmicos porque acreditaram, com toda esperança, num sonho possível, ao vislumbrá-la no horizonte como possibilidade, como inédito viável.” O tempo da graça é agora! Somente seremos partícipes e protagonistas de um novo tempo, na confiança n´Aquele que pode “fazer novas todas as coisas” (Ap 21,5). Só assim poderemos ensaiar uma nova convivência entre nós, rompendo com tudo aquilo que paralisa nosso anseio de aquecer nosso discipulado missionário. Para tanto, precisamos contemplar Maria, na sua atitude humanizadora de gerar Cristo para o mundo. Também nós Cordimarianas somos convocadas, na idade e nas condições que nos encontramos hoje, a oferecer o nosso ventre para que seja grávido do amor a ser derramado entre nós e sobre as pessoas com as quais somos chamadas a amar incondicionalmente, sobretudo as mais necessitadas de pão e ternura. Que assim seja!

Irmã Maria do Disterro Rocha,FCIM Caucaia, 17 de dezembro de 2010

60 Anos de Presença Cordimariana em Caucaia (Ceará)

“Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus meu Salvador.” (Lc 1,46)

Saúdo com entranhável ternura todas as pessoas presentes a esta celebração de Ação de Graças, e todas que estão em sintonia conosco neste momento de louvor e gratidão.

“Celebrar é um verbo ético, indica uma maneira de se pôr na história, de viver as situações, de se relacionar com as pessoas, de ler os contextos. Nossa formação nos leva a dividir: tempos de morte, de guerra, de violência, e tempos de vida; tempos comuns, cotidianos, e tempos festivos. Para Deus não há tempo morto, tempo comum, todo tempo é kairós, tempo da sua vinda.” Assim nos ensina a Irmã Tea Frigerio. Viver o tempo, celebrar o tempo, fazer memória é o que estamos a fazer neste momento, que para nós se torna tempo de graça, tempo de bênção divina. Fazer do tempo presente o mais importante, apesar dos contratempos do caminho. Tudo é graça! Tudo é manifestação do amor de Deus por cada uma, cada um de nós.

Pablo Neruda afirma que, “tudo é altar”. No cotidiano celebramos a liturgia do coração, daquilo que permeia nosso cotidiano, daquilo que está impregnado a nossa vida. Hoje celebramos 60 anos de presença Cordimariana em Caucaia. A celebração de hoje não é um fim em si mesma, pois não se acaba o tempo longo de preparação. Ela é continuação de um novo recomeço que queremos assumir; ela é promessa, é compromisso assumido, da memória resgatada, viva e sempre atual do nosso Carisma. O Prof. Antônio Chaves Santana nos ensina que, “fazer memória é atualizar a história, é trazer o ontem para o hoje, o passado ao presente, o antigo ao novo. É revisitar a nossa história, é refundar o nosso Carisma para nos engajarmos num novo tempo, que exige imaginação e intuição profética.”

Há sessenta anos atrás, Dom Antonio de Almeida Lustosa – o amigo, o homem de Deus, o santo..., escancarou as portas do seu coração mais uma vez e nos apresentou esta terra. Diante da imensa arquidiocese de Fortaleza, por que Caucaia? Será que já nos demos ao trabalho de nos perguntar: Por que Caucaia e não outra cidade? A Irmã Tea ainda nos ajuda a refletir quando nos diz: “Perguntar na perspectiva bíblica é sinal de fidelidade. Sinal que estamos saindo da nossa arrogância, de ter tudo claro e certo. Então, perguntar se torna sinal de crescimento.”

Aqui, nesta terra, encontramos abrigo, acolhida, mãos estendidas. Aqui, nossa inesquecível Madre Maria de Jesus e as Irmãs da 1ª hora em Caucaia, comeram do pão da providência, passaram penúrias, atravessaram obstáculos, firmaram-se na mística do Amor-Sacrifício. Caucaia foi palco das grandes resoluções e descobertas da Congregação no pós Concílio. Foi e é palco, berço, escola da formação das futuras gerações de Cordimarianas e de muitas crianças e adolescentes das famílias desta terra.

Nos bairros, nas ruas, na praia, na Igreja de Caucaia existe a marca da presença Cordimariana. Presença atuante nas frentes pastorais e nos pequenos grupos, mas também presença escondida, anônima, silenciosa... presença orante, de imensa confiança N´Aquele a quem fomos chamadas a seguir: Jesus Cristo que hoje, mais uma vez, nos fortalece com a força do Espírito Santo. Prefiro não pronunciar nenhum nome, a fim de que não seja injusta com nenhuma Irmã que derramou sua vida, seu amor, sua complacente compaixão no meio do povo de Caucaia.

Dom Demétrio Valentini nos diz que o Jubileu nos incentiva a projetar com força esta luz sobre a realidade, e sentir como ela é benéfica para tornar o mundo mais de acordo com o mistério de amor que Deus revela em si mesmo, que nos envolve, e Ele propõe como inspiração para um novo relacionamento entre nós.”

Ao longo desses 60 anos não faltaram desencontros, incompreensões, impasses, lágrimas, sofrimentos, solidão, cansaço... Ao longo desses 60 anos, nem sempre respondemos com o mesmo amor e dedicação; nem sempre soubemos amar o povo de Caucaia com o seu jeito de ser. Muitas vezes, faltou da nossa parte a capacidade de arriscar caminhos novos, de abraçar a realidade sofrida do povo. Muitas vezes fomos mais analistas sociais do que companhia, presença, compaixão, misericórdia...

Conforta-nos a palavra do Apóstolo Paulo: “Esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa. Somos atribuladas por todos os lados, mas não desanimadas; somos postas em extrema dificuldade, mas não somos vencidas por nenhum obstáculo; somos perseguidas, mas não abandonadas; prostradas por terra, mas não aniquiladas.” (2Cor 4,7-9)

Ora, muito mais do que nossas falhas e contradições, que humildemente nos penitenciamos, muito mais do que as incompreensões que recebemos, foi o que conseguimos imprimir neste chão, na vida deste povo. Muito mais foi o que, gratuitamente recebemos dos benfeitores e benfeitoras da Congregação, dos amigos e amigas, do povo sofrido que continua nos ensinando e evangelizando. Por isto, nossa gratidão a Deus e ao povo bom de Caucaia, por tão grande dádiva de amor! Nossa palavra de gratidão a Deus por todas as Irmãs que por aqui passaram, sobretudo pelas Irmãs, que hoje, se alegram em participar da vida e do destino desta gente. Como Maria, elevamos a Deus o nosso canto de gratidão, pelas maravilhas que Ele, generosamente, realizou no meio de nós.

Com gratidão evoco mais uma vez a presença da Madre Maria de Jesus, lembrando as sábias palavras do querido Frei Macapuna: “Qual vaso de argila resistente, ela guardou, até quebrar, o perfume de Cristo, transmitindo-o com fidelidade a gerações e gerações, de Cordimarianas. A vocação do vaso, não reside na sua beleza, mas na sua capacidade de ser “lugar onde se deposita o belo, o precioso e o sagrado.” Que este Jubileu nos projete para o futuro com mais ardor, mais garra e mais ousadia. Muito Obrigada!

Irmã Disterro Rocha,FCIM
Caucaia, 30 de maio de 2009
60 anos de presença Cordimariana em Caucaia

MULHER

Mulher! Meu nome é Mulher!
Mulher, já desde a antiguidade,
rotulada pelo pensamento filosófico,
de maneira negativa,
por homens que não aceitaram a tua capacidade criadora, transformadora.
À você, foi negado o direito de se perguntar:
Quem sou eu?
Por que a vida?
Eles te definiram!
Eles me reduziram a nada!
Mas, como esconder a força
que carrego no meu ser?

Mulher! Meu nome é Mulher!
Mulher que na Igreja patriarcal e sexista, aparece como acidental e falha.
Eles também te definiram!
Eles me reduziram a ser inferior,
causa de pecado,
da desgraça e da morte.

Mulher! Meu nome é Mulher!
Mulher que na cristandade,
viveu fenômeno cruel:
o período de caça às bruxas!
Nos definiram como belas, sensuais, atraentes, e por isso, desde sempre,
imperfeitas e perigosas...
causa de morte!
Vocês nos mataram!
Vocês destruíram nossos sonhos
e nos queimaram em praça pública.
Éramos umas sessenta mil mulheres!
Queimaram os nossos sonhos!

Mulher! Meu nome é Mulher!
Nos queimaram como bruxas,
diante do teu riso ameaçador, castrador,
e não foi possível escapar à dor.

Nos queimaram porque não quisemos estar submissas aos critérios machistas,
porque como parteiras e curandeiras,
nos apropriamos de um saber não oficial.
Fomos guilhotinadas,
porque não aceitamos regime
de servidão e escravidão.

Mulher, Meu nome é Mulher!
Meu nome é Olympe de Gouges
Flora Tristam,
Rosa Luxemburgo!
Sonhamos, acreditamos e lutamos
por uma aurora de uma sociedade
socialista e livre,
humana e solidária!
Mulheres de todas as épocas
que tiveram seu destino esfacelado
por mãos assassinas
que não permitem que o amor, a justiça,
a verdade, a fraternidade,
o respeito e a dignidade possam acontecer.

Mulher! Meu nome é Mulher!
Os homens nos queimaram, guilhotinaram, esgotaram, exploraram...
Quiseram nos matar,
mas não conseguiram destruir
os sonhos que teimamos em construir!
Quem nasce pra viver, não pode morrer!
Nascemos pra viver, amar,
gerar a vida.
VIDA!
A vida que passa por nossas mãos!
Vocês nunca puderam viver
sem a nossa presença,
porque queiram ou não,
ELAS ESTÃO CHEGANDO...

Ir. Disterro Rocha, FCIM
Agosto de 1993.

Uma Vida Eucaristizada...

Eucaristia! Pela força da sua Palavra, Jesus Cristo torna-se comida, alimento que sacia a fome de muitos. Pela força do seu testemunho, Ele entregou a sua própria vida, entregou-se como vítima e chamou a todos/as para atualizar na vida o mesmo gesto: “Fazei isto em memória de mim!”

Somos chamadas/os para doar a nossa vida, tornando-nos pão que se parte e se reparte, vida que se doa, que se dá, que se oferece no altar do mundo para que o mundo seja salvo. No cenário Cordimariano, podemos contemplar a vida da Irmã Maria Celeste – o nosso “Anjo da Eucaristia”, que na sua curta existência, entendeu o significado de se colocar na trilha das/os que aprenderam a colocar na mesa comum a própria vida.

Sentindo-se chamada por Deus para segui-lo mais de perto, resistiu o quanto pôde. Temperamental, não se rendeu facilmente. Dizia sempre: “Não posso”. Porém, um dia, escutou da Irmã Maria de Nazaret: “Não diga mais – não posso, mas não quero”. E o seu coração não resistiu! Abandonou-se, tornou-se dom, oferta... respondeu Sim!

Será que você jovem, tem a coragem de escutar, acolher a proposta de amor do próprio Deus? O mundo hoje, mais do que nunca, necessita de pessoas corajosas, capazes de ser Maria – ser Eucaristia. Que possamos, nos caminhos que vamos descortinando, SEMEAR as sementes de um tempo novo, onde todos/as possam se alimentar do mesmo pão.


Irmã Disterro Rocha, FCIM

Aniversário Irmã Disterro