3 de junho de 2011

O SONHO DE UM JOVEM FUNDADOR: JÚLIO MARIA

Já se escreveu muito sobre Pe. Júlio Maria De Lombaerde, que desde tenra idade, deixou-se tocar pela vida das pessoas, sobretudo àquelas mais necessitadas de amor, ternura, compaixão, solidariedade. Ele é a criança inquieta diante do sofrimento humano, o jovem destemido que se entregou à missão na África, o escritor que questionava e cuidava da formação das consciências, o missionário arrojado que teve um coração dilatado: deixou suas marcas de apóstolo de Maria e da Eucaristia em três continentes, fundou três congregações, enfim, soube imprimir no coração de todos e todas, o amor pela causa do Reino, no seguimento à pessoa de Jesus Cristo, de forma amorosa e fiel.

Qual o sonho desse jovem Fundador? O que se passava em seu coração inquieto, inconformado com a realidade, com as carências missionárias quando aqui chegou, a quase cem anos? Ao ser designado para as missões no Brasil, precisamente na Amazônia, qual a sua resposta? E quando foi incompreendido pela hierarquia da Igreja de Belém, “convidado” a abandonar a Congregação que fundara, qual a sua atitude? Revoltou-se? Pediu demissão da sua missão? Fundou com a influência que tinha, uma “igreja” paralela? Não! Ele apenas obedeceu! Nada questionou, não pediu explicação, sofreu em silêncio e se retirou, pois confiava n´Aquele que é o autor de toda vida e de toda vocação.

Ele precisou retirar-se do convívio das suas filhas primogênitas, as Irmãs Cordimarianas, que ele gerou no afã de sua vida de missionário na Amazônia. Retirou-se para que o seu sonho se tornasse uma realidade concreta na vida da Igreja que ele amava, apesar dos percalços do caminho. Retirou-se porque no centro da sua vida de pai, missionário e pastor, Jesus Cristo e o Reino estavam no centro. Tudo isso nos faz lembrar a palavra sábia de São Paulo: “Quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servidores, através dos quais vocês foram levados á fé; cada um deles agiu conforme os dons que o Senhor lhe concedeu. Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer” (I Cor 3,5-7).

Assim, o sonho do missionário da Amazônia se amplia. Providencialmente Deus foi cuidando com delicadeza do sonho do jovem Fundador. Já se passaram quase 95 anos e ainda estamos, com a graça do Espírito de , que suscita em cada momento novas perguntas, novas inquietações, novas respostas, sim ainda estamos nos alimentando da mística de um coração verdadeiramente eucarístico-mariano, missionário, na tentativa de  continuar sendo presença da Compaixão-Misericórdia do Coração de Maria, no impulso profético do novo tempo que queremos construir, para com nossa vida e missão, “fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21,5).

Que todas nós vocacionadas que somos, possamos dar continuidade ao sonho do jovem fundador, Júlio Maria, o destemido missionário da Amazônia, que com coragem e determinação pôde ousar dizer pela palavra e com a vida: “Eu, eu quero a Amazônia.”

                                                                   Irmã Disterro Rocha, FCIM
                                                                   Caucaia, 21/05/2011
                                                                      Dia Vocacional Cordimariano

28 de maio de 2011

Vida!

Vida...
O que é a vida?
Estava eu a me perguntar!
E quanto mais pensava,
Mais confusa ficava diante
do grande Mistério.
Como compreender, se era um Mistério?
Pois mistério não se entende.
Foi assim que fui abrindo
os olhos e fui percebendo,
no meu coração inquieto,
que tudo ao meu redor
me convidava a viver.
Foi assim que fui descobrindo
o mistério, pois vi vida em
todo gesto de bondade;
Vi vida no sorriso puro
e simples da criança;
Vi vida no abraço,
na palavra terna de tantos amigos
que encontrei no meu caminho,
vi vida até no rosto desfigurado
do irmão pobre, a me dizer
que a vida mais forte
que a injustiça,
mais forte que a fome que o domina
e que o faz resistir sempre.
Descobri a vida dentro de mim
e cada vez que acontece
um gesto de ternura,
de doação,
de amor,
é um pouco de vida
que reparto com alguém.


                                     Irmã Disterro Rocha,FCIM

30 de janeiro de 2011

Ser Coração de Maria na Compaixão-Misericórdia

Queridas Irmãs Cordimarianas,

“Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte.”(1Cor 1,27)

Estamos concluindo mais um ciclo de uma trajetória feita por muitas mãos, muitos corações... A nós coube a responsabilidade de ajudar a tecer os fios do tecido Cordimariano e o fizemos em sintonia com toda a Congregação, ao mesmo tempo em que buscávamos imprimir, do nosso jeito, as marcas do nosso Carisma: Ser Coração de Maria na Compaixão-Misericórdia. Para tanto, vivenciamos um itinerário pautado na comunhão recíproca, na confiança n´Aquele que nos chamou a vivenciar esse misterioso desígnio, com a simplicidade das pessoas que se reconhecem abertas para acolher a inédita mensagem que foi chegando a nós de diversas formas. Tudo constituiu espaço e oportunidade de crescimento. Tudo foi graça e dom de Deus!

E aqui estamos, para prestar contas do dom a nós confiado. Nós o fazemos com a simplicidade e a transparência que sempre marcaram nosso jeito de trabalhar. Aqui está o resultado de muitas noites em claro, de muito amor, de muita vida doada... Da nossa parte ficou o aprendizado, a paciência em esperar, sobretudo a certeza de que podemos ratificar: “Somos servas inúteis; fizemos o que deveríamos ter feito” (cf.  Lc 17,10). Todavia, somos conscientes que não seríamos capazes de chegar aonde chegamos, não fosse a cumplicidade, a parceria, o apoio que recebemos de diversas formas e situações. Por tudo, expressamos nossa gratidão e reconhecimento a todas as Irmãs e a cada uma em particular. Tudo isto fortaleceu o sentido de pertença à Família Cordimariana.

Nesse quatriênio, assumimos o seguinte objetivo: “Comprometer-se com a dinamização e o acompanhamento da refundação Cordimariana, para que a Congregação, humanizada e sintonizada com as grandes questões da humanidade, realize sua missão específica na Igreja e no Reino, testemunhando o amor de Deus.” Para tanto, tivemos como prioridades: Humanização das Relações – Pastorais da Juventude e Vocacional – Formação – Lideranças – Missionariedade – Manutenção do Patrimônio e  Sistema Financeiro. Nem tudo foi realizado a contento, mas demos passos significativos, sobretudo no que se refere à humanização das relações, o crescimento do ardor missionário e uma consciência vocacional mais afinada e comprometida. Inquietamos-nos com a formação das novas gerações de Cordimarianas e continuamos na busca para acertar o passo. Muitos são os desafios que persistem e desejamos que tenhamos sempre a coragem de olhar longe, compreendendo-nos caminhantes de um caminho a ser construído.

Com Maria, a mulher do discipulado missionário, sempre inquieta que soube confiar no “impossível de Deus” (cf. Lc 1,37), colocamos no altar da nossa Vida Consagrada Cordimariana, os frutos que humildemente oferecemos, que recolhemos entre lágrimas e alegrias, entre luzes e sombras, entre incertezas e desolações, mas sobretudo nos sentindo acolhidas pela entranhável amorosidade do Coração de Deus e pela presença terna de cada uma das Irmãs. Que possamos continuar sendo bênção e pão que parte e se reparte, “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Recebam nosso afetuoso abraço, acompanhado de nossas orações. Com estima e gratidão,

Irmã Maria do Disterro Rocha Santos

Caucaia, 21 de novembro de 2010
                                                                                                             94 Anos Cordimarianos

27 de janeiro de 2011

Uma Centelha de Paz!

Com a Irmã Consolata, queremos lembrar todas as Irmãs Cordimarianas que compartilharam da sua existência, que tiveram o privilégio da sua amizade... E como não poderia deixar de ser, lembramos hoje alguém muito especial que continua ensinando ao povo desta terra (em outra versão), o que significa amar e servir; o que significa ofertar não um pouco de si, mas o melhor de si mesma. Como uma lâmpada ela deixa iluminar todos que compartilham da sua vida. Ela não é a luz, mas uma centelha, uma faísca da verdadeira Luz. Porque é esta centelha, ela é chamada de Paz. Chega de mansinho, sem muito alarde, mas podemos sentir o perfume da sua presença, da sua carismática personalidade. Com a Irmã Consolata a senhora, Irmã da Paz, pôde enfrentar as tormentas de tempos difíceis, mas cheios de possibilidades, cúmplices daquele sonho de Deus “de vida abundante para todos” (cf. Jo 10,10).

Com júbilo e gratidão, o Centro de Vida agradecido, louva ao Senhor por sua existência fecunda de 90 anos a nos ensinar o que significa ser incansável na arte de fazer o povo aprendiz e sedento da Palavra de Deus. Obrigada, querida Irmã da Paz, pela vibração interior que sentimos do seu coração, desde o primeiro momento da continuação desta obra e pela partilha que generosamente a senhora faz a cada mês. É o óbolo da viúva (cf. Lc 21,2-3) transformado em bênção de vida e amorosidade.

Irmã Disterro Rocha, FCIM
Entre as palavras que pronunciei por ocasião da comemoração dos 5 anos do Centro de Vida Irmã Maria Consolata (01/05/2010)

20 de janeiro de 2011

Pe. Pedro Paulo - Amigo de Fé

Pe. Pedro Paulo – Amigo que, pouco a pouco, foi entrando na minha vida. Existia entre nós um misto de confiança e cumplicidade. Sim, porque um amigo não se escolhe, ele vai chegando como quem nada quer, e quando percebemos sentimos que podemos confiar, compartilhar a vida. Esse amigo de fé deixou marcas profundas...

O extraordinário na sua vida, a partir do meu olhar, está alicerçado naquilo que a Bíblia chama de simplicidade, e do que Jesus Cristo chamou de sabedoria revelada aos pequenos (cf. Lc 10,21). Sua vida foi um retalho de feitos do cotidiano, tecido com as nuances da escuta, da valorização e atenção à pessoa, de uma fé capaz de abraçar os desígnios de Deus em sua vida, sem apelar para os grandes porquês. Ele viveu intensamente a vida, acolhendo com reverente dignidade o Projeto que Deus havia pensado para ele.

Seu testemunho vivencial de amigo e pastor fez deste homem de Deus, um peregrino do amor por todos e todas. Assumiu as limitações que carregava referente à sua fragilidade humana, com a dignidade de quem conhecia e experimentava a fundo a entranhável força de Deus. Fez das limitações da sua saúde física uma oferta ao Senhor em cada Eucaristia que celebrou, pois bem sabia o sentido de uma vida entregue, doada. Em Cristo e com Cristo, tornou-se, pela oferta da sua vida, uma referência de santidade para todos e todas nós que tivemos o privilégio de conhecê-lo e amá-lo.

Por isto, não posso deixar de louvar e bendizer ao Senhor, por ter colocado no meu caminho e de todas nós, Irmãs Cordimarianas, uma pessoa tão especial, tão terna, como o Pe. Pedro Paulo. Gratíssima, amigo de fé, pelos sonhos que juntos alimentamos de um mundo bem melhor para  todos e todas.

                                                                      Irmã Maria do Disterro Rocha Santos,FCIM
                                                                    Superiora Geral – Irmãs Cordimarianas
                                                                     Caucaia, 05 de fevereiro de 2009.